Site SOMA.AM elogia recente trabalho
Divulgação do site SOMA.AM por Amauri Stamboroski Jr. (publicado em 21.09.2011)
"Um dos melhores discos de rock do Brasil de 2011 é assinado por um garoto morador do subúrbio carioca que durante o dia trabalha consertando malas com o pai. Foi gravado a partir de um Tascam de quatro canais, com uma bateria fincada no quintal de casa, no meio dos varais de roupas, e é influenciado por nomes como Guided by Voices, Pavement e Neutral Milk Hotel.
A descrição acima pode soar como exercício surrealista ou sonho molhado de um indie rocker militante dos anos 90, mas é a mais pura verdade. Depois do EP Révi, de 2009 (e do under-hit “Nunca Nunca”), Lê Almeida finalmente lança seu primeiro álbum solo com Mono Maçã, um delicioso apanhado de 23 faixas – entre canções e cançonetas, herdadas diretamente da tática “não estraga enchendo linguiça no que tá ótimo em trinta segundos” maturada à perfeição por uncle Bob Pollard – que deixaria muito compositor “grande” com inveja.
Se Lê aprendeu as manhas de fazer mais com menos com o líder do GBV, ao mesmo tempo foi além. Enquanto Pollard passou mais de dez anos choramingando “eu sou um puta compositor no meio do nada e ninguém me reconhece”, sua contraparte da Baixada Fluminense arregaçou as mangas e montou a Transfusão Noise Records, gravadora caseira que lança nomes como Carpete Florido, Coloração Desbotada, Tape Rec, Uma Nova Orquídea em Meu Jardim Psicodélico e Babe Florida – todos projetos suburbanos de “roque de guitarra”, como prefere definir Lê.
Correndo por fora da ignorância ativa dos circuitos mais prestigiados – seja a Zona Sul carioca ou o "Baixo Augusta" paulistano – Lê ajudou a fomentar uma cena que vive à base de prensagens caseiras e shows em botecos, motoclubes e onde mais houver uma tomada disponível. Com a perseverança, furou o bloqueio e lançou seu novo disco até na Grã-Bretanha – pela mini Weepop Records – e ainda descolou uma parceria com a Vinyland para prensar umas tantas centenas de cópias em vinil do álbum.
Gestado ao longo de dois anos, Mono Maçã é uma aula básica de como grudar em ouvidos alheios sem parecer se esforçar muito. A taxa de assobiabilidade de faixas como “Má Bike Pt 1”, “Jamais Saberei dos UFOS” e “Bike Never Die” é inversamente proporcional à duração das mesmas, “desperdiçando” boas ideias em quase-vinhetas num exercício de desprendimento melódico. Por outro lado, composições que ultrapassam a barreira dos três minutos, como “Amigo Comprimido” e a pavementiana “Por Favor Não Morra” mostram que Lê tem talento para ir longe e além da escola Pollard de micro-canções.
A sonoridade lo-fi, comprimida, dita a fluidez do álbum, engolindo todas as faixas num oceano de fuzz e ruído, com disparos ocasionais de guitarras ao contrário – como na homenagem “Marcha dos 6 Elefantes” – reverbs, phases e outros efeitos disponíveis à mão. Enterrada em toda a mixagem, a voz de Lê Almeida entrega uma dicção peculiar, que tenta aproximar o português brasileiro do embromation que caracterizou grande parte da produção do indie rock nacional na década de 90 – se soubessem que dava para cantar assim, as bandas de “guítar” da época poderiam poupar muitas vergonhas posteriores contabilizadas em pronúncias bizarras e construções gramaticais ininteligíveis. Além das ocasionais e muito bem-vindas odes à bicicleta e indagações ufológicas, as letras passeiam por um universo onírico próprio, com palavras inventadas e imagens borradas. Mas há um fator diferencial importante nisso: para Lê, a psicodelia é passeio, recreação, no lugar do mergulho e da descoberta mais corriqueiros à obras deste escopo. Como se uma viagem de ácido fosse mais um domingo no parque de diversões do que uma investigação das profundezas da alma humana. Só que é nesse descompromisso que os segredos podem se esconder, basta ouvi-los com a devida falta de atenção".
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